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                    Preceptor, Supervisor, Tutor e Mentor: Quais são
Seus Papéis?
Preceptor, Supervisor, Tutor and Mentor:
What are Their Roles?
Sérgio Henrique de Oliveira BottiI
Sérgio RegoI

PALAVRAS-CHAVE

RESUMO

– Educação Médica;

Sempre houve uma preocupação com a preparação daqueles que cuidam da saúde da população. Na
educação médica, a figura de um profissional experiente, que auxilia na formação, é uma constante.
No decorrer dos tempos até hoje, esse profissional vem recebendo diferentes denominações, entre as
quais preceptor, supervisor, tutor e mentor. No Brasil, mesmo em documentos oficiais, não ficam claras
as funções, intervenções e atividades ligadas a cada um desses termos. Procuramos, então, analisar o
significado dessas diferentes denominações usadas pela comunidade científica nacional e internacional.
A partir da análise do conceito que cada uma delas expressa, pretendemos construir uma melhor fundamentação das regulações e práticas de ensino-aprendizagem na graduação e pós-graduação em saúde.

– Formação de Conceito;
– Papel Profissional.

KEY WORDS

ABSTRACT

The education of those who care for the health of the population has always been a matter of concern. In
medical education, the figure of the experienced professional helping to educate and qualify a new generation is a constant finding. Such a professional has been given different names, preceptor, supervisor,
tutor and mentor being the most common among them. Even official documents fail to clearly specify
which functions, interventions, and activities each denomination entails. We thus aimed to analyze
the meaning of these different denominations as used by the national and international scientific communities. Starting with the analysis of the concept each term expresses, we intend to build up a better
framework for the regulation and practice of the teaching-learning process in the graduation and postgraduation courses in the health professions.

– Medical Education;
– Concept Building;
– Professional Role.

Recebido em: 09/04/2007
Reencaminhado em: 03/09/2007
Aprovado em: 12/12/2007

REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA

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I

Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.

Sérgio Henrique de Oliveira Botti et al

Perceptor, Supervisor, Tutor e Mentor

A preocupação com a preparação profissional daqueles que
cuidam da saúde da população é uma constante na história da
humanidade. Macedo1 afirma que, desde a época mais remota, nas tribos primitivas, os candidatos a exercerem a função de
pajé eram cuidadosamente selecionados e treinados. Em seus
primórdios, como aconteceu com o aprendizado da maioria das
ocupações, o ensino da atividade de curar começa de maneira
informal, com o treinamento profissional orientado por um prático. Nesse sistema, conforme Mattos2, os discípulos aprendiam
as habilidades profissionais na relação com seus mestres.
Na história da educação médica, podemos sempre notar a
figura de um profissional experiente, que auxilia na formação
profissional. Na Europa do século 14, Pádua era considerada o
mais importante centro do ensino médico3. Nessa escola, para
a obtenção do grau de doutor em medicina, era necessário, no
mínimo, um ano de prática ao lado de um médico bem conhecido, além de três anos de estudos na faculdade e de outros
requisitos. Nos Estados Unidos, em todo o século 18 e por muitas décadas do século 19, o aprendizado e treinamento médicos
eram feitos pelos mais jovens estagiando com outros médicos,
sendo que a educação formal em escolas médicas era apenas
um suplemento desse treinamento4. Também no Brasil Colônia, além dos médicos formados em universidades européias,
havia aqueles que poderiam praticar a medicina sem a obrigatoriedade de freqüentar qualquer estabelecimento de ensino superior. Nesse sistema, médicos e cirurgiões com diploma
universitário eram acompanhados por aprendizes, que tinham
um treinamento basicamente centrado na experiência e prática
diárias, sem ênfase teórica. Após certo período de acompanhamento e quando eram considerados aptos por seus mestres,
esses aprendizes prestavam exames junto às instâncias administrativas e eram licenciados para a pratica médica5.
Desde então até os dias atuais, esses profissionais mais experientes que se ocupam da formação médica vêm recebendo
diferentes denominações, entre as quais preceptor, supervisor,
tutor e mentor. Cada um desses termos significa uma grande
variedade de funções, intervenções e atividades ligadas à educação médica, tanto na graduação como na residência6,7-10. E a
proximidade semântica entre esses nomes pode gerar confusão, de modo a não sabermos ao certo de quem estamos falando e como é definida a função que cada um deles indica7,10. A
Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), por exemplo, em sua Resolução 005 de 200411, referiu-se à função como
sendo preceptoria/tutoria. Ou seja, assumiu que há uma equivalência entre as duas denominações.
Neste trabalho, analisamos o significado das diferentes denominações usadas pela comunidade científica nacional e internacional8,9,10,12-20 para esta função, procurando entender os pressupostos pedagógicos relacionados com cada um dos termos e

avaliando sua pertinência e adequação à função exercida pelo
profissional nos diferentes programas de residência. Pesquisamos os termos “preceptor, preceptoria, tutor, tutoria, supervisor, supervisão, mentor e mentoring” em publicações nacionais
e internacionais da área da educação de profissionais de saúde
e da área médica em geral dos últimos dez anos. Procuramos
ainda em outras fontes, como textos históricos, dicionários e documentos oficiais, buscando compreender o sentido dado aos
referidos termos nessas fontes. Embora tratemos aqui especificamente do caso da residência médica, nossa reflexão se aplica
às residências das demais profissões e às multiprofissionais. Ou
seja, entendendo que cada denominação expressa um conceito,
vamos analisá-los de forma a possibilitar uma fundamentação
melhor das regulamentações e práticas de ensino-aprendizagem realizadas na graduação e na pós-graduação em saúde.
Temos como objetivo analisar o significado das diferentes
denominações dadas à função de acompanhar e orientar os
médicos em formação, buscando oferecer subsídios para melhor fundamentação dessa prática.
ENTENDENDO UM CONCEITO
Um conceito é a representação mental de um objeto, instrumento fundamental do pensamento em sua tarefa de abstrair e generalizar impressões sensoriais, identificar, descrever
e classificar os diferentes elementos e aspectos da realidade. É
uma construção lógica para simbolizar os fenômenos, criada a
partir de impressões, percepções ou experiências complexas, e
que só tem sentido dentro de um quadro de referências estabelecido (um sistema teórico, uma teoria). Os conceitos, portanto, não têm significado definitivo, mas são construídos por
suas relações com os fatos21,22.
Uma análise conceitual tem o papel de apontar as confusões e sobreposições de uso dos termos, bem como sugestões
para tentar diminuir as dificuldades de comunicação. Deve ser
clara e exige raciocínio preciso sobre o fenômeno e suas interrelações. Mostraremos, então, que conceitos que parecem tão
claros e delimitados podem ter várias facetas complexas e freqüentemente contraditórias. E, como resultado final de nossa
análise, iremos propor conceitos mais precisos. Esse método
consiste em selecionar os conceitos principais, analisar seus elementos significativos, buscar os vários usos do termo, relacionar
o fenômeno simbolizado com outros fenômenos semelhantes e,
finalmente, verificar o nível de generalização desse conceito22.
Chinn e Kramer (1995) apud Lith23 consideram que um
conceito se situa em um continuum: da experiência mais direta
(extremo empírico do conceito) ao mais abstrato dos constructos. Já Rodgers24, numa abordagem mais interpretativa e construtivista, está entre aqueles que não usam indicadores empíricos, mas analisam os conceitos de forma holística. Para estes,

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por meio da socialização e repetição de seu uso, um conceito
torna-se associado a certos atributos que passam a constituir
sua definição. Nesse processo, o desenvolvimento de um conceito tem três fases — significância, uso e aplicação24 — que
procuraremos observar em nossa reflexão.
Como estamos em um país periférico, onde muitas palavras aqui utilizadas são resultado de traduções, devemos, antes, recordar que as palavras e o mundo mudam juntos, mas
não em correlação direta25. Quando falamos de fenômenos sociais, culturais e políticos, essa relação entre palavras e o mundo é ainda mais complexa. Pitkin25 afirma que os fenômenos
são constituídos pela conduta humana, que é formada pelo que
as pessoas pensam e dizem, por palavras. Então, os sentidos
das palavras, os significados dos conceitos entre povos que falam idiomas diferentes também são diferentes, mas não de um
modo que corresponda de forma pura e simples às diferenças
semânticas. A história de um conceito exige detalhados relatos
paralelos de história verbal e social, política e cultural. Para Ortiz26, a tradução de um conceito de uma língua para outra exige
um esforço adicional de interpretação. Ao buscarmos termos
equivalentes, não basta simplesmente encontrar o vocábulo
adequado, mas considerar toda uma constelação expressiva.
Todas essas considerações são importantes para nos ajudar no
esclarecimento dos termos que denominam o profissional mais
experiente que tem este destacado papel na formação médica.
Preceptor
Inicialmente, vamos buscar compreender o conceito de
preceptor de acordo com seu uso em artigos publicados em
periódicos e na legislação brasileira. Para Mills8, esse conceito
é usado para designar aquele profissional que não é da academia e que tem importante papel na inserção e socialização
do recém-graduado no ambiente de trabalho. Ryan-Nicholls27,
porém, usa o termo para designar o professor que ensina a um
pequeno grupo de alunos ou residentes, com ênfase na prática
clínica e no desenvolvimento de habilidades para tal prática.
Esta função cresce em importância atualmente, pois o ambiente de trabalho está sempre em mudança e exige que o novo
profissional constantemente faça adaptações, muitas vezes
difíceis, na imagem que tem desse cenário e na bagagem de
conhecimentos que traz da graduação. Adquirir experiência
clínica constitui uma parte importante da graduação e da pósgraduação, e o preceptor, segundo Bain28 e Armitage9, tem a
função de estreitar a distância entre teoria e prática. Os recémformados chegam ao ambiente de trabalho com certa bagagem de conhecimentos e habilidades, mas deles são exigidas
algumas competências consideradas mínimas, nem sempre já
adquiridas no processo de formação. O preceptor tem, então,
o papel de suporte, para ajudar o novo profissional a adqui-

rir prática, até que este tenha maior confiança e segurança em
suas atividades diárias8,10,28-31.
A palavra preceptor vem do latim praecipio, “mandar com
império aos que lhe são inferiores”. Era aplicada aos mestres das
ordens militares, mas, desde o século XVI (já aparece com este
sentido em 1540) é usada para designar aquele que dá preceitos
ou instruções, educador, mentor, instrutor. Mais tarde, passou a
identificar alguém que educa uma criança ou um jovem, geralmente na casa do educando21. Na literatura médica, encontramse diferentes funções para o preceptor, sendo essenciais as de
orientar, dar suporte, ensinar e compartilhar experiências que
melhorem a competência clínica e ajudem o graduando e o recém-graduado a se adaptar ao exercício da profissão, que, como
já dissemos, vive em constante mudança. Para que o profissional possa oferecer cuidado de qualidade em saúde, é necessária
completa adesão a essas mudanças. E cabe ao preceptor criar as
condições necessárias para que elas sejam implementadas de
maneira satisfatória durante o processo de formação9.
Houaiss apresenta como significado da palavra preceptoria “prebenda (ocupação rendosa e de pouco trabalho) dada a
lentes e magistrados”21 e nomina a atividade desempenhada
pelo preceptor como preceptorado. Entretanto, apesar de ainda
não constar do dicionário, preferimos usar a primeira (preceptoria) para designar tal atividade, pois é a palavra consagrada
no meio médico e que aparece até mesmo em legislações11, podendo, assim, ser entendida como expressão de um conceito.
A principal função do preceptor é ensinar a clinicar, por
meio de instruções formais e com determinados objetivos e
metas. Portanto, entre as suas características marcantes devem
estar o conhecimento e a habilidade em desempenhar procedimentos clínicos. Nesse sentido, o preceptor se preocupa
principalmente com a competência clínica ou com os aspectos
de ensino-aprendizagem do desenvolvimento profissional,
favorecendo a aquisição de habilidades e competências pelos
recém-graduados, em situações clínicas reais, no próprio ambiente de trabalho. É importante lembrar, ainda, que as avaliações formais fazem parte também da preceptoria9,32-35.
Está claro, então, que o preceptor deve ter a capacidade
de integrar os conceitos e valores da escola e do trabalho, ajudando o profissional em formação a desenvolver estratégias
factíveis para resolver os problemas cotidianos da atenção à
saúde9,36. Burke37 considera que, pela natureza e extensão das
relações desenvolvidas entre os preceptores e os novos profissionais, o preceptor pode ter, além da função de ensinar, as
de aconselhar, inspirar e influenciar no desenvolvimento dos
menos experientes. Muitas vezes, os preceptores servem de
modelo para o desenvolvimento e crescimento pessoal dos recém-graduados e, ainda, auxiliam na formação ética dos novos
profissionais durante determinado período de tempo10,28,38-40.

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Essas últimas funções do preceptor em muito se assemelham
às funções típicas de um mentor e se confundem com elas.
Supervisor
No dicionário, supervisor (do latim medieval supervisor,
pelo inglês supervisor; registrado na língua portuguesa desde
1640) é aquele que dirige, controla, vigia, cuida de tudo e se
responsabiliza para que tudo se faça corretamente e de maneira segura21,41. No mundo do trabalho, é usado principalmente
pela administração e pela engenharia de produção, com foco
especial no âmbito das organizações industriais. Segundo
Cordeiro42, representa todos os níveis de comando na estrutura dessas organizações incumbidos de algum planejamento e
controle, que ficam entre a direção e o nível de execução.
Na literatura da área da saúde, o supervisor tem o papel
de medir e desenvolver conhecimentos e habilidades de profissionais em início de carreira em seus próprios ambientes
clínicos. Ele também deve estimular a aplicação da teoria na
prática, desenvolvendo habilidades e ensinando o recém-graduado a utilizar adequadamente o tempo, por meio de priorização de procedimentos e atitudes18. Tem, portanto, importante função para melhorar o nível de qualidade da atuação profissional, o que é bom para o próprio profissional e também
para o usuário do serviço de saúde. Por isso, alguns autores
consideram a supervisão um componente essencial, que marca a boa qualidade do cuidado com a saúde, sendo importante
para melhorar o serviço ofertado ao paciente11,43-46.
Existem teóricos que levam a ação do supervisor também
aos ambientes acadêmicos. Acreditam que a supervisão é importante para a educação médica na pós-graduação e, por extensão,
também durante a graduação46,47. Grealish e Carrol18 diferenciam
a supervisão da preceptoria apenas pelo número de recém-formados (ou de alunos da graduação) por professor e pela atividade básica deste. Para esses autores, supervisão ocorre quando
existem de seis a oito novos profissionais por professor, que basicamente atua na pesquisa e área acadêmica; já na preceptoria,
a relação é de um único recém-formado por professor, um profissional que atua basicamente no serviço de saúde.
Na verdade, a palavra supervisor pode ser usada em várias situações. Existem artigos científicos segundo os quais o
supervisor deve exercer papel de modelo, conselheiro e colega,
além de saber demonstrar habilidades, ser instrutor, facilitador
e, também, saber avaliar. Butterworth (1992) apud Lith23 defende que a ação do supervisor pode estar relacionada a uma relação de troca entre profissionais com o objetivo de desenvolver
habilidades; Minot (1989) apud Lith23 afirma que a supervisão
pode estar ligada a um conceito de revisão da prática profissional e das reações do profissional a seu próprio trabalho; já o
United Kingdom Central Council for Nursing Midwifery and

Health Visiting — UKCC (1996) apud Lith23 define que o supervisor pode estabelecer, com um recém-graduado, uma relação
baseada na prática, demonstrando as próprias habilidades e
guiando todo o processo de inserção do neófito.
Ao oferecer suporte, o supervisor estimula o novo profissional no processo de aprendizagem, propiciando-lhe desenvolver seus conhecimentos e competências, e ajudando-o
também na construção da autoconfiança 23,48,49. Nesse conjunto de funções, o conceito de supervisão se relaciona com outros conceitos, como o de prática reflexiva, aconselhamento,
formação, suporte, desenvolvimento pessoal e profissional,
e também com os conceitos trabalhados neste texto (mentor,
preceptor e tutor)23,50.
Existem ainda autores que relacionam a ação do supervisor ao processo de decisão em questões éticas e morais da
profissão. Esses autores acreditam que a supervisão é necessária não apenas para uma boa prática, sendo essencial também
para um bom desenvolvimento moral. Para eles, uma profissão
deve oferecer proteção a seus clientes e respaldo no monitoramento de seus próprios modelos e padrões de qualidade da
atenção49,50. Os desenvolvimentos pessoal e profissional aparecem intrinsecamente relacionados, o que faz com que a personalidade, as crenças e os valores dos supervisores e dos supervisionados tenham grande importância durante o processo
de supervisão23,50,51. Assim sendo, o supervisor promove o desenvolvimento da preocupação moral e do perfil profissional,
influenciando o processo de tomada de decisões e estimulando
a formação da competência e da identidade moral dos jovens
profissionais. Estes, com o auxílio da supervisão,adquirem
maior autoconfiança e se tornam mais capacitados a estabelecer relações mais autênticas com os pacientes e a assumir maior
responsabilidade no cuidado dos mesmos52-55.
Cutcliffe19 afirma que há uma diferença no conceito de supervisão entre americanos e europeus. Segundo o autor, na literatura norte-americana, relacionam-se mais com o conceito de
supervisor o treinamento de habilidade técnica profissional e a
excelência no desempenho dessa habilidade, para que alguém
possa exercer a supervisão. Já a literatura européia faz maior
aproximação do supervisor com os aspectos pessoais, relacionais e também clínicos do cuidado ao paciente. Para os europeus, é essencial que o supervisor funcione como suporte e seja
capaz de proporcionar reflexão sobre a prática diária do profissional de saúde, função muito semelhante à do mentor19,44,56.
Mas observar alguém no exercício de determinada atividade, zelar por essa pessoa e ter a certeza de que ela exerce sua atividade são as principais atribuições do supervisor45. Essa função, além de levar à adoção de padrões e modelos, leva também
à análise de desempenho, o que pode dar ao supervisor um
caráter muito formal, punitivo, disciplinar, de imposição e de

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poder11. Por isso, há aqueles que não vêem a supervisão como
um fator de desenvolvimento profissional e pessoal. Acreditam
que é apenas uma imposição de superiores para vigiar, para ver
se a atividade está sendo desempenhada corretamente. Para
eles, isso contribui para uma conotação negativa da função de
supervisionar45,50,57. Por isso, para evitar essa depreciação, ensejam que o supervisor seja escolhido entre um dos pares, que
não tenha cargos superiores nem detenha maior poder que o
jovem profissional, e que tenha habilidades clínicas relevantes, para facilitar o desenvolvimento do supervisionado50. Mas
questionamos: será que cuidar para que um jovem profissional
exerça corretamente suas funções pode ser uma ação vil ou desprezível? Acreditamos, como afirma Rego5, que essa função do
supervisor é desejável e tem grande importância.
Ainda sobre o papel do analista de desempenho, observamos que existe uma grande discussão sobre a função da
supervisão no desenvolvimento pessoal e profissional do recém-graduado. Esses dois processos de desenvolvimento não
acontecem isoladamente, mas são distintos. Distinguir, então,
seus aspectos particulares pode ser essencial para compreender melhor o papel do supervisor. Entender desenvolvimento
pessoal e profissional como um processo único, sem particularidades, é comprometer a ação do supervisor com mais atribuições do que ela pode realmente abarcar51,56.
Tutor
Vamos nos voltar, agora, para a utilização do termo tutor,
para entender seu significado. Nas literaturas americana e européia, tutor designa o professor que se preocupa em ensinar
o aluno a “aprender a aprender”, principalmente na chamada
Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL ou ABP). Nesse
cenário, o tutor é considerado um guia, um facilitador que auxilia no processo de aprendizagem centrado no aluno58-60.
Tutor (do latim tutor, oris) é um termo do direito romano,
atribuído àquele que se encarregava de cuidar de um incapaz
(como um órfão, por exemplo). Em português, a palavra já era
usada no século XIII e tinha o significado de guarda, protetor,
defensor, curador; significa também aquele que mantém outras pessoas sob sua vista, que olha, encara, examina, observa
e considera; é o que tem a função de amparar, proteger e defender, é o guardião, ou aquele que dirige e governa. Para os
ingleses, pode significar um professor para pequenos grupos,
que presta atenção especial nesses alunos; e pode significar,
ainda, um professor para adultos ou com papel especial na escola21,41. Na agricultura, é designação para a estaca que ampara
uma planta frágil durante seu crescimento. Como se vê, em
qualquer acepção, pertence ao campo semântico da proteção.
Na História do Brasil, temos a presença importante de um
tutor: José Bonifácio de Andrada e Silva. Foi nomeado pelo im-

perador D. Pedro I, que, após abdicar do trono e partir para a
Europa, precisava de alguém para cuidar da formação de seu
filho, D. Pedro II. Descreve-se José Bonifácio como um homem
de caráter forte e dominador, e, embora seu tutorado tenha sido
efêmero, sua figura imponente, acentuada ainda mais pela velhice, exerceu importante influência sobre o príncipe. Considera-se que a presença do tutor e o afastamento dos pais fizeram
com que a educação tivesse maior influência na formação do caráter de D. Pedro II do que a hereditariedade61. Podemos perceber, então, um exemplo da importância e do papel de um tutor.
O tutor era uma figura comum nas diversas universidades do Reino Unido. Nesse sistema inglês, o tutor se responsabiliza por ensinar e orientar, tendo o objetivo de zelar pelo
cumprimento do programa do curso, além de buscar as metas
pessoais do aluno. O tutor orienta, ensina, ajuda na busca de
conhecimento e tem também papel importante como avaliador. Pode trabalhar com um aluno individualmente ou com
um grupo pequeno de alunos12. Nos anos 1960, ainda no Reino
Unido, com o estabelecimento de centros de pós-graduação
médica, aparece o conceito de tutor clínico; o título é conferido
ao profissional que tem a função de coordenar e desenvolver
o programa educacional desses centros, identificando as necessidades de treinamento dos alunos, assegurando uma boa
aprendizagem, organizando a estrutura da pós-graduação e
cuidando da qualidade e da atualização dos professores. Atua
principalmente como um advogado dos médicos recém-formados, ajudando-os a buscar seus direitos e a aprimorar sua
formação. Mais tarde, no final dos anos 1990, o tutor clínico
assume a função de representação dos professores de pós-graduação junto a órgãos centrais do governo e se afasta da luta
pela causa dos médicos em treinamento62,63.
Hoje, no campo da medicina, denomina-se tutor aquele
que orienta a formação de profissionais já graduados e que
atuam no sistema de saúde. É a aprendizagem que acontece
em ambientes de atenção primária também no Reino Unido.
Médicos mais experientes, que prestam esse tipo de atenção à
saúde da população, são recrutados por departamentos regionais de pós-graduação para facilitarem a educação permanente. Costumam fazer uma visita semanal e/ou se comunicam
por mensagens, discutindo a prática cotidiana com os profissionais no seu próprio ambiente de trabalho64. Já na Espanha,
também dentro da atenção primária, mas em programa de
pós-graduação, existe, durante a residência, a experiência dos
tutores de medicina de família e de comunidade. Nesse cenário, o tutor — geralmente um médico mais experiente —, além
de competência clínica e da capacidade de ajudar a aprender a
aprender, precisa ter compreensão da prática profissional em
sua essência e estimular o desenvolvimento pessoal. Espera-se
que ele dê conselhos, atuando também como guia e modelo.

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Nessa pós-graduação, o tutor tem ainda o importante papel
de avaliar o médico residente, o que mostra a assimetria da
relação estabelecida entre este e seu tutor65,66.
Mais recentemente, usa-se a expressão tutor pessoal (personal tutor) para designar aquele que, além de ensinar técnicas
e habilidades, auxiliar na busca de conhecimentos e avaliar os
alunos, também aconselha e oferece suporte. Essa denominação parece ter surgido exatamente para distinguir este profissional de outros já mencionados, aos quais se aplica o título de
tutor, como também do profissional que auxilia exclusivamente no processo de aprendizagem6,7,14,67.
Mentor
Mentor é a designação dada a um profissional mais experiente, ao qual cabe guiar, orientar e aconselhar um jovem — a
quem chamaremos “mentoreado” — no início de sua carreira.
No processo de aprendizagem, a função do mentor pode ser considerada uma excelente ferramenta, que tem ação primordial ao
longo do crescimento pessoal e profissional. O mentor tem um
papel que ultrapassa a orientação para estudo e para “aprender
a aprender”, perseguindo não apenas os objetivos do curso, mas
também assessorando o jovem na realização dos objetivos pessoais, investindo no desenvolvimento dos mais inexperientes e
interessando-se por eles6,13,14,34. Estabelece uma relação complexa
e multifacetada com o jovem profissional, buscando o desenvolvimento interpessoal, psicossocial, educacional e profissional. É
uma relação de troca e de reciprocidade, que se firma por meio
de um plano de desenvolvimento pessoal e na qual o ganho não
é apenas unilateral, pois o mentor também aprende e cresce com
a maneira de o jovem encarar a vida20,68-70.
Mentor (do latim mentor, oris, do antropônimo grego Mentor) é hoje aquele que serve como experiente conselheiro, como
guia e sábio. É aquele que estimula, inspira, cria ou orienta
idéias, ações, projetos e realizações. A palavra é derivada (por
metonímia) de Mentor21,41, personagem da Odisséia, poema escrito por Homero no século VIII antes de Cristo. Esse poema
conta a história do retorno do rei Ulisses (ou Odisseu) a sua
terra, Ítaca, após a vitória na guerra de Tróia. Mentor é amigo
e conselheiro do rei. Quando partiu para a guerra, Ulisses confiou sua mulher Penélope e seu filho Telêmaco a Mentor. Passaram-se 20 anos; a família de Ulisses está humilhada e cerceada
pelos pretendentes ao trono de Ítaca. O poema mostra o desenvolvimento de Telêmaco e a importância de Mentor para o seu
desenvolvimento71,72. Outro exemplo é encontrado na história
do rei Artur, que foi educado por um mentor, Merlin73.
A função de mentor, que exprime a ação de pessoas mais
maduras e experientes na vida e no exercício profissional, aconselhando, ensinando, instruindo e treinando os mais jovens e

inexperientes, pode ser considerada histórica, pois acompanha
a humanidade desde tempos imemoriais. Davidhizar74 afirma
que também nas profissões consideradas modelares (pela concepção teórica hegemônica da sociologia das profissões, por
primeiro reunirem as características definidoras da condição
de profissão), como medicina e direito, a função de mentor é
encorajada e considerada como excelente maneira de assistir
os neófitos na profissão.
O uso contemporâneo do termo mentor tem origem nos
Estados Unidos e foi motivado pelos empresários da década
de 1970 pelo movimento feminista e pelo desenvolvimento
das escolas de negócios nas universidades americanas9,17. Nessa área de negócios são escritos, então, vários artigos sobre a
importância do mentor para o desenvolvimento especialmente
da carreira de mulheres. Podemos questionar se isso não seria uma discriminação, subestimando o papel da mulher nesse
meio. Depois o conceito migrou também para a área de formação do profissional de saúde, e a função tornou-se comum nas
décadas de 1980 e 1990. Aparece principalmente em três áreas:
no crescimento e desenvolvimento de adulto-jovens, no mundo
dos negócios e nos cenários acadêmicos. Mas, devido à polissemia do conceito de mentor, não podemos afirmar que os autores querem dizer a mesma coisa quando usam o termo. Também não foi possível estabelecer uma unidade de pensamento
que pudesse auxiliar no processo de escolha de mentores, nem
no desenvolvimento de políticas para melhor organizar essa
atividade. Como o mentor aparece cada vez mais como um integrante da formação profissional, é importante esclarecer seu
significado, suas funções e o que se espera dele 8, 9,17,75.
O mentor é um profissional experiente, que desempenha a
função de se responsabilizar por um jovem — recém-graduado
ou graduando — e guia o caminho deste. Mas, para a aprendizagem de adultos, é imprescindível alto grau de autonomia para
escolher o próprio modo e o próprio ritmo de aprender76,77. Podemos perguntar se a relação entre mentor e estudante, ou recémgraduado, não pode estimular a dependência, a passividade e
o conformismo e ser um constrangimento ao desenvolvimento
da autonomia do indivíduo. Segundo Schramm78, é preciso estar
atento à definição de autonomia, que contém uma ambigüidade
semântica entre o individual e o coletivo. O autor explica essa
ambigüidade, explicitando um conteúdo ideal da autonomia (o
agente moral como verdadeiro autor de suas ações: capacidade
de autodeterminação) e um conteúdo de realidade (o ser humano vinculado a seus semelhantes, por meio de instituições legitimadas coletivamente: leis, normas, convenções e usos).
Então, nessa relação dialética, autonomia e heteronomia
fazem parte de um conjunto complexo (diferente da concepção
holística) cujos elementos são distinguíveis para evitar a confusão, mas inseparáveis para evitar o reducionismo78. A partir des-

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sa concepção, o mentor pode estimular a autonomia e não, ao
contrário, reprimi-la. E ele pode fazer isso mostrando ao “mentoreado” o sentido crítico da autonomia moral78, que consiste em
aliar o reconhecimento (mas não necessariamente a aceitação)
das regras existentes à análise crítica e vigilante de eventuais
preconceitos vigentes no imaginário social, responsáveis por
histerias coletivas, discriminações e injustiças. Porém, alguns
autores consideram que essa relação, que possibilita a autonomia, está mais ligada à função de facilitador e que essa função
encontra melhor representação no conceito de preceptor e não
no de mentor. Outros acreditam que a função de se responsabilizar por profissionais recém-graduados ou por estudante em
treinamento se ajusta mais ao conceito de supervisor17,79.
A grande diferença da função do mentor é que ele não
desempenha nem o papel clínico, nem o de avaliador. E, embora conheça as características do processo de ensino-aprendizagem, o mentor não baseia sua ação nelas, nem se preocupa exclusivamente com o desenvolvimento de habilidades
clínicas. Segundo Armitage, ele tenta manter uma relação
mais próxima e mais pessoal com o aluno ou com o recémgraduado9. Serve como guia e influencia as ações do jovem
“mentoreado”, influindo também na formação de sua personalidade, por meio do desenvolvimento da capacidade crítica
desse jovem. O mentor deve ser capaz de ouvir o profissional
em formação, suas posições, seus juízos e seus valores. Deve
questioná-lo, buscando suas justificações e estimulando que o
mais jovem desenvolva sua capacidade de raciocínio crítico.
Aqui está a riqueza dessa relação bilateral, onde um cresce
com o outro6,74.
Já nesse aspecto (raciocínio crítico), a função de mentor
se relaciona com um dos conceitos essenciais do processo de
aprendizagem, que é a reflexão. Refletir é analisar e avaliar
uma ou mais experiências pessoais, generalizando determinado pensamento. Com isso o aprendiz se informa melhor, adquirindo mais habilidades e sendo mais efetivo que anteriormente. A reflexão na ação sempre envolve uma etapa analítica
(“como faço algo?”) e outra avaliativa (“o quão bem eu faço
esse algo”)69. Estimulando a reflexão, o mentor estará incentivando a habilidade de resolver problemas pessoais e profissionais, fazendo com que o mais jovem descubra ferramentas
que o ajudem nesse processo de busca do conhecimento próprio e de sua independência.
Seguindo esse pensamento, sabemos que existe certo
momento em que o jovem “mentoreado” adquire independência completa e pode “andar com suas próprias pernas”.
Mas como e quando o mentor deve saber que esse momento
chegou? Aqui temos mais um ponto em comum com a relação
entre pais e filhos, pois sempre chega um momento em que
se “rompe o cordão umbilical”, e os filhos podem caminhar

sozinhos na vida73,79. A atividade do mentor se caracteriza,
portanto, por uma mudança gradual, que vai desde a dependência quase completa do jovem no início da relação até a
um aumento de independência e autonomia, que se tornam
máximas no final dessa relação20,80. Achamos importante ficar atentos, nesse ponto, para que a ação do mentor não represente mais um fator que influencie e estimule a chamada
adolescência prolongada81, representando um incentivo ao
paternalismo.
Bellodi6, Spicer69, Tobin82 e Larkin83 incluem, entre as funções do mentor, estimular o desenvolvimento ético e moral. O
mentor permite que o jovem aprenda muito sobre o ambiente
no qual está começando a entrar, assim como sobre prioridades, costumes, modelos e líderes, instituições e estruturas que
fazem parte da vida profissional. Com isso, o mentor assume
importante papel na trajetória pessoal e profissional do formando. Mas podemos considerar que atuar no desenvolvimento pessoal desse jovem profissional pode ser uma atividade que vai muito além do ofício de mentor. Este pode apresentar ao neófito as características, personagens, regras e normas,
dificuldades e os mais variados caminhos do mundo do trabalho. Isso contribui para o desenvolvimento da identidade
profissional do mais jovem. Mas, considerando que desenvolvimento pessoal e profissional se distinguem, embora não se
separem, e que o último pode ser apenas um dos componentes
do primeiro, acreditamos que o mentor deveria atuar apenas
na parte profissional do desenvolvimento pessoal, o que não
quer dizer que atue apenas na formação técnica.
As grandes mudanças que tanto a medicina como o ensino
médico sofreram e continuam sofrendo suscitam dúvidas sobre se ainda é possível ou desejável a existência da função de
mentor. O grande desenvolvimento científico, a crescente especialização, a fragmentação do conhecimento e a dificuldade
de estabelecer relações mais próximas e duradouras entre professores e alunos modificaram o cenário da relação entre mentor e jovem profissional. Acredita-se, porém, que ainda é uma
relação importante para a formação e para a profissionalização
na medicina, que reforça o altruísmo e idealismo entre aqueles
que estão se formando ou iniciando a atividade de médico. Isto
porque cada geração oferece uma contribuição para a contínua evolução da prática e da ciência médicas por meio de suas
próprias atividades e da educação e treinamento das gerações
subseqüentes. E a atividade do mentor personifica essa contribuição e essa preocupação com os futuros profissionais68.
CONCLUSÃO
É notório que existem diversas congruências entre os termos aqui discutidos. Concordamos em que, muitas vezes, o
profissional deve saber desempenhar as funções de preceptor,

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Perceptor, Supervisor, Tutor e Mentor

supervisor, tutor e mentor ao mesmo tempo, ou cada uma delas em momentos diferentes6,32. Percebemos, ainda, que esse
desempenho simultâneo, ou sucessivo, das atividades ocorre
com freqüência no ambiente de formação médica. Mas julgamos importante padronizar o uso das palavras, para termos
certeza do que estamos falando ao utilizá-las. Esclarecer melhor o significado de cada termo e as funções que eles indicam pode contribuir para uma melhoria na formação médica
e, conseqüentemente, na oferta de saúde à população. Então,
com base principalmente em Mills8 e Bellodi6, mas também
nos vários outros artigos consultados, queremos lançar uma
proposta no intuito de tentar esclarecer e uniformizar a utilização desses termos no cenário da formação médica em nosso
meio (Quadro 1).
O preceptor é o profissional que atua dentro do ambiente
de trabalho e de formação, estritamente na área e no momento
da prática clínica. Sua ação se dá por um curto período de tempo, com encontros formais que objetivam o progresso clínico do
aluno ou recém-graduado. O preceptor desenvolve uma relação
que exige pouco compromisso, percebido apenas no cenário do
trabalho. Tem, então, a função primordial de desenvolver habilidades clínicas e avaliar o profissional em formação.
O supervisor é o profissional que tem sua atividade no
ambiente de trabalho, mas que se encontra com o profissional
em formação também fora da área e do momento de prática
imediata. Sua atividade se estende por um período longo de
tempo, que atravessa diferentes fases de interação. Os encontros geralmente são particulares, com pouca formalidade, e
não objetivam apenas o progresso clínico do supervisionado:
o supervisor mantém uma relação altamente compromissada (que idealmente deve se dar apenas durante as horas de
trabalho, mas que pode exigir atividades extras), tendo como
objetivo principal desenvolver o desempenho clínico como
um todo, e não apenas as habilidades clínicas, permitindo ao
supervisionado ser mais efetivo em seu trabalho. O supervisor
tem ainda a função de avaliar como o mais jovem está desenvolvendo sua atitude profissional.
Já o mentor é aquele que se relaciona com o jovem “mentoreado” fora de seu ambiente imediato de prática profissional. Sua ação também se dá por um período longo de tempo
e atravessa diferentes fases de interação. Os encontros podem
ser coletivos ou particulares, confidenciais, com pouca formalidade, e não objetivam apenas o progresso clínico, numa
relação de colaboração que exige alto grau de compromisso
fora do cenário de prática e do ambiente de trabalho. Essa relação é assimétrica, porém não é hierárquica (nenhuma parte
tem poder sobre a outra) e tem, então, os objetivos amplos
de desenvolvimento pessoal e profissional, progressão na
carreira, melhoria na prática clínica e no desempenho acadê-

mico. É uma relação centrada menos nos problemas e mais
nos desafios e tarefas cotidianas, características da fase de
desenvolvimento pessoal e profissional na qual se encontra
o jovem em formação. O mentor não tem a função de avaliador e, embora dê conselhos, possibilita ao mais jovem andar
sozinho. O significado crucial do termo mentor está ligado à
relação de suporte entre um profissional mais maduro e experiente, e outro, em formação ou recém-chegado à profissão.
Esses dois profissionais, com diferentes idades, personalidades, estágios de vida e status profissional, desenvolvem, por
certo período de tempo, uma relação que vai acrescentar conhecimentos e capacidade de tomada de decisões à história
de ambos6,8,20,80,84.
Por fim, podemos apontar duas oportunidades de uso
para o termo tutor em nosso meio: como substituto do termo
mentor, em cenários onde seja preferível a este último, devido
à inexistência de tradução para os termos mentorship e mentoring, em nossa língua, para designar a atividade exercida pelo
mentor; ou ainda para designar as funções daquele que auxilia
e estimula a “aprender a aprender” no cenário da Aprendizagem Baseada em Problemas.
Especificamente na residência médica, muito se tem discutido sobre competências essenciais que dêem maior efetividade ao processo de formação, melhorando os resultados dessa modalidade de pós-graduação. Além da redução das horas
de trabalho dos médicos residentes, a principal recomendação
é ter um profissional mais experiente que os acompanhe85.
Esse profissional é aquele que ajuda o residente a perceber e
reconhecer suas potencialidades e fraquezas profissionais e
pessoais; e tem importante papel na escolha da especialidade
a seguir e do caminho a ser percorrido pelo jovem profissional. Sua ação envolve a exploração das virtudes e vícios do
neófito, e ajuda no discernimento da vocação e da missão profissional, auxiliando o jovem a encontrar seu lugar no mundo
da medicina8,80,83,86.
Graças a essas características, a relação entre o mais jovem e o mais experiente é importante durante o processo de
profissionalização87, incluindo o desenvolvimento de um corpo de conhecimentos e atitudes dos médicos. É importante
sublinhar que não se pode confundir essa função com a de
outros profissionais aos quais o jovem médico pode e deve
ser encaminhado quando necessário: psiquiatra, psicólogo,
psicopedagogo, assistente social e, até mesmo, algum religioso. O profissional experiente deve ser aquele que faz o jovem
em formação honrar seus sonhos e pontos de vista. Ele pode
trazer à tona o que o mais novo tem de melhor e ajudá-lo a
desempenhar seu papel, mostrando que cada um é realmente
importante no mundo em que vivemos8,20,83,84.

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Perceptor, Supervisor, Tutor e Mentor

QUADRO 1
Principais diferenças entre preceptor, supervisor, tutor e mentor
Profissional

Principal local de
atuação

Principais papéis

Preceptor

• Ensinar a clinicar, por meio
de instruções formais e com
determinados objetivos e metas;
• Integrar os conceitos e valores da
escola e do trabalho.

• Situações clínicas reais,
no próprio ambiente
de trabalho.

Supervisor

• Observar o exercício de determinada
atividade, zelar pelo profissional e ter
a certeza de que ele exerce bem sua
atividade;
• Atuar na revisão da prática
profissional.

• Situações clínicas reais,
no próprio ambiente
de trabalho;
• Situações fora do
ambiente de trabalho.

• Guiar, facilitar o processo de ensinoaprendizagem centrado no aluno;
• Atuar na revisão da prática
profissional

• Ambientes escolares

Tutor

• Guiar, orientar e aconselhar na
realização dos objetivos pessoais,
buscando o desenvolvimento
interpessoal, psicossocial,
educacional e profissional.

• Fora do ambiente
imediato de prática
profissional.

Mentor

REFERÊNCIAS

Deve
avaliar?

Sim

Sim

Principais requisitos
• Conhecimento e habilidade em
desempenhar procedimentos clínicos;
• Competência pedagógica.

• Excelência no desempenho de
habilidade técnica profissional;
• Capacidade de proporcionar reflexão
sobre a prática diária do profissional.

Sim

• Competência clínica e capacidade de
ajudar a aprender a aprender;
• Compreensão da prática profissional
em sua essência.

Não

• Capacidade de se responsabilizar, de
servir como guia, de oferecer suporte
e de estimular o desenvolvimento do
raciocínio crítico;
• Capacidade de ouvir, questionar e
estimular justificações.

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CONFLITOS DE INTERRESE
Declarou não haver
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Sérgio Henrique de Oliveira Botti
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Fora
Rua Catulo Breviglieri, s/no — Santa Catarina
36036-110 — Juiz de Fora — MG
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