Estudante de Medicina da Ufal Arapiraca publica artigo sobre caso raro

Rafaela Alcântara contribui para literatura médica e conta como a busca por mais conhecimentos de forma voluntária é importante para formação acadêmica
Por Manuella Soares - jornalista
18/12/2020 16h38 - Atualizado em 19/12/2020 às 07h34
Rafaela Alcântara, estudante de Medicina da Ufal Arapiraca (foto Arte Digital Formaturas)

Rafaela Alcântara, estudante de Medicina da Ufal Arapiraca (foto Arte Digital Formaturas)

Estar na hora e no lugar certos do acontecimento que vai impulsionar sua vida acadêmica pode não ser acaso. Rafaela Campos Alcântara, aluna do 8º período do curso de Medicina da Ufal, no Campus Arapiraca, acredita em interesse e disposição. Foi com essa receita que ela presenciou um caso raro no Hospital de Emergência (HE) da cidade.

“Foi um momento de plantão extracurricular. Eu estava ali no hospital por livre e espontânea vontade”, contou, destacando que não deixa sua formação restrita à carga horária obrigatória: “Desde o começo da minha faculdade eu me dedico muito. Fica a sensação de recompensa por essa busca espontânea por melhorar a minha formação, porque eu estava ali durante um plantão da Liga de Cirurgia da Ufal”.

O caso que Rafaela participou com a equipe médica do HE era de uma paciente vítima de agressão física por tentativa de estrangulamento. Ela conta que a mulher chegou com a cabeça rodada e lateralizada de uma forma fixa, o que chamou atenção da equipe. O diagnóstico feito pelo neurocirurgião Jacks Tenório, após exames clínicos e de imagem específicos, foi de uma Subluxação Rotatória Atlantoaxial (SRAA), que é uma alteração rara nas vértebras cervicais, mais comum em crianças, o que torna o caso de Arapiraca ainda mais raro, visto que a paciente tinha 38 anos.

A expertise médica evitou um tratamento invasivo, sem a necessidade de intervenção cirúrgica, e a experiência acadêmica rendeu o convite para submeter um artigo científico em revista de grande impacto. Rafaela assina com os neurocirurgiões Jacks Tenório, do HE, e Andrei Fernandes, da Universidade de Campinas (Unicamp), o trabalho publicado no periódico Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia.

À época do atendimento realizado no Hospital de Arapiraca, a literatura médica apresentava apenas 22 casos publicados. A contribuição desse trabalho serve para embasar os profissionais que atendam situações semelhantes e para difundir o conhecimento na área.

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Recursos para formação

Com orgulho e alegria a comunidade acadêmica do Campus Arapiraca recebeu a notícia da publicação do trabalho de Rafaela. “Vivenciamos aqui todos os dias, com muito orgulho, o sucesso da interiorização da Ufal, que vem mudando o cenário social, acadêmico e científico de todo o estado de Alagoas, fruto de muito trabalho e da dedicação de todos que integram a nossa comunidade acadêmica”, reforçou o diretor-geral Arnaldo Tenório.

Ele destaca que os resultados também são colhidos pela competência do corpo docente que qualifica alunos de excelência. A estudante de Medicina ratifica isso afirmando que a diferença está muito além dos recursos materiais de uma instituição.

“O mais importante é o recurso humano. Existem profissionais qualificados que nos preparam, nos estimulam a realizar um bom exercício da prática médica, a sempre crescer. Existe muito isso do ‘espelho do professor’ e de oportunidades diversas, como projetos de pesquisa e extensão. Então, basta que o aluno tenha interesse. Com certeza a Ufal dá esse apoio nos mais diversos aspectos da nossa formação”, destacou Rafaela.

A coordenadora do curso de Medicina da Ufal Arapiraca, Francine Mendonça, reforça que a publicação do caso presenciado no HE tem um valor representativo para o que a graduação se propõe a fazer: “Estamos formando essencialmente médicos com profundo respeito ao ser humano, com embasamento técnico e capaz de, com a prática médica, fornecer conhecimento a outros médicos em outras áreas, de forma a ser um contributo para a sociedade”.

Estar presente no dia a dia hospitalar também tem um grande peso de importância para o conhecimento adquirido. “Os alunos necessitam de vivência com a prática. Ver casos assim permite que coloquem em prática tudo que aprendem nos livros, faz com que novas dúvidas surjam e potencializam sobremaneira o aprendizado”, comentou o médico Jacks Tenório, e acrescentou: “Livros são essenciais, mas é na vida prática que levamos as lições permanentes”.

O que impacta nas escolhas

O complexo médico do Campus Arapiraca dispõe de salas novas, laboratórios equipados e parcerias em hospitais e unidades de saúde da cidade para o campo de prática dos estudantes, a exemplo do Hospital de Emergência, que recebe os graduandos de Medicina.

“Tanto a parte de cirurgia, neurocirurgia e ortopedia [do HE] acolhem os alunos muito bem. Aqueles que estão ali interessados, com vontade de aprender, têm um espaço muito propício pra aprimorar o conhecimento”, ressaltou a estudante, que também é vice-presidente da Liga de Cirurgia da Ufal Arapiraca e presidente da Associação das Ligas Acadêmicas de Cirurgia (Capítulo-Alagoas).

Acolher, orientar e passar o conhecimento adiante é papel dos preceptores que acompanham os estudantes nos campos de prática. O médico Jacks Tenório salienta que essa atividade exige, especialmente, o compromisso com a formação qualificada dos futuros colegas de profissão, seja no cotidiano ou nos fatos especiais.

“Casos como esse já motivam de forma inerente. Estudantes de Medicina têm uma curiosidade imensa por casos mais raros. Estimular é ensinar que casos raros são raros, que é necessário aprender o ‘bê-á-bá’, o básico, o comum, de forma obsessiva, porque são esses que veremos sempre e que jamais podemos falhar. Mostrar como é a vida médica em ambientes reais talvez seja a maior forma de estimulá-los a aprender de forma correta”, ressaltou.

Encontrando preceptores acessíveis e dispostos a colaborar, a estudante de 22 anos, que cresceu no sertão alagoano, conta que suas experiências serviram para reafirmar a escolha da profissão e que tem clareza sobre como quer ser lembrada: “Eu prezo muito por uma formação médica com humanismo. É isso que eu quero oferecer para o meu paciente. Quero ser a melhor médica pra cada paciente que chegar a ser atendido por mim”.